quarta-feira, 16 de abril de 2014

Como se formam professores de Arte?

Jornal UNESP :::
Maio/2006 – Ano XX – nº 211[voltar]
:: OPINIÃO ::
Como se formam professores de Arte?
Rejane Galvão Coutinho

A formação dos professores de Arte no Brasil tem uma história peculiar, diferente da formação de professores de outras áreas mais estáveis do conhecimento q4ue fazem parte do currículo escolar. Para ter-se uma idéia da complexidade da questão, é importante lembrar que a disciplina Arte só passa a fazer parte do currículo escolar com essa designação na nossa última LDB, em 1996.
A Arte e seu ensino têm uma história tortuosa no sistema educacional brasileiro, e essa história revela diferentes concepções e entendimentos dos objetivos e finalidades do ensino de Arte, evidenciando também suas fragilidades. Para um melhor entendimento da questão, destacamos aqui algumas relevantes concepções que vêm permeando a formação dos professores. Nos currículos escolares do século XIX e início do século XX, encontram-se as disciplinas de Desenho e de Música. O Desenho com o objetivo de instrumentalizar, de formar artesãos e trabalhadores para servir ao processo de industrialização, e a Música para elevar os espíritos – distinções que se apóiam nas concepções clássicas das “artes liberais” e das “artes mecânicas”. Concepções que vigoram nas escolas de Belas Artes, Liceus de Artes e Ofícios e Conservatórios de Música onde os professores são formados.
Em meados do século XX, seguindo a linha da instrumentalização, temos nos currículos escolares os Trabalhos Manuais, e nas escolas técnicas, as Artes Aplicadas e Artes Industriais. Por outro lado, a concepção de educação através da arte passa a impregnar o meio educacional, deslocando o foco de atenção do ensino artístico para a expressão de sentimentos e emoções, visando o desenvolvimento da criatividade dos alunos através de atividades nas diferentes linguagens artísticas. Essa concepção é incorporada pelas propostas modernas de educação e dissemina a idéia de que todo sujeito em estado de livre expressão é capaz de criar, espontaneamente.
Com essa multifacetada herança, a Educação Artística passa a fazer parte do currículo escolar nos anos 1970. Pela primeira vez, o ensino de Artes passa a ter um espaço definido na escola, com uma concepção polivalente, onde os professores de Educação Artística devem desenvolver atividades expressivas nas diferentes linguagens: artes plásticas, teatro, dança e música.
Como se formam professores de Educação Artística com tantas habilidades e conhecimentos em todas essas linguagens? É também na década de 1970 que as Licenciaturas em Educação Artística são providenciadas para suprir essa demanda e os novos cursos recrutam docentes com qualificações nas diferentes linguagens, herdeiros deste amálgama de diferentes concepções. As artes plásticas e a música têm já seus tradicionais cursos de formação de artistas e professores, as academias e conservatórios. No entanto, as linguagens do teatro e da dança têm que buscar no meio artístico profissionais capazes de se tornar docentes, pois essas duas linguagens pela primeira vez estavam entrando na escola como componentes curriculares, além do lugar por elas ocupado nas festividades escolares que já lhes eram próprias.
O resultado dessa formação esfacelada produz várias gerações de professores de Educação Artística com mal digeridas e superficiais concepções de Arte e de ensino de Artes. O espaço conquistado pelas artes na escola se fragiliza. Em sua grande maioria, os docentes responsáveis pela formação desses professores são especialistas em suas próprias linguagens. A idéia da polivalência nas artes é desestruturada pela própria estrutura dos cursos. Quer-se formar professores polivalentes com professores especialistas.
Esse quadro de desqualificação do ensino de Artes agrava-se e são os próprios professores de Artes que se mobilizam em busca de outras qualificações e formações. Por exemplo, a primeira linha de pesquisa em ensino de Artes no Brasil em nível de pós-graduação surge no final dos anos 1980 na Universidade de São Paulo, ajudando a delimitar e fundamentar a área através de reflexões e pesquisas. É a partir desse movimento que a disciplina Arte passa a fazer parte da LDB de 1996 como área de conhecimento, não mais como uma atividade artística do currículo.
Como a própria Arte, a área é intrinsecamente complexa por sua própria natureza, com linguagens específicas e diversas como as artes visuais, o teatro, a dança e a música, com possibilidades de intersecções e quebras de fronteiras entre elas. Porém, com seus saberes específicos, que demandam professores especializados e atualizados com os meios próprios de produção e com as novas mídias, assim como com as novas propostas de ensino e aprendizagem que dialogam com as questões contemporâneas e emergentes da sociedade.
É por conta de toda essa história sinuosa e complexa que a formação do professor de Arte precisa ser repensada em sua essência. Novos cursos de licenciatura em Artes Visuais, Artes Cênicas e Educação Musical estão sendo criados na UNESP. Entretanto, não basta que se mudem os rótulos. É necessário rever as concepções que permeiam a estrutura desses novos cursos. É necessário, também, que os docentes engajados nesses projetos revejam suas concepções de arte e de educação, buscando sintonizar-se com a demanda do campo de trabalho dos professores que estão formando. A história se justifica no entendimento do presente e nas possibilidades de mudanças do futuro.
Rejane Galvão Coutinho é professora do Instituto de Artes, campus da UNESP de São Paulo, coordena o Arteducação Produções e também é representante da América Latina no World Council da Insea.

Do Visual ao Invisível

Do visual ao invisível – O espaço destinado ao ensino de artes no cotidiano escolar é uma breve reflexão sobre o conhecimento artístico e a sua prática enquanto disciplina curricular; buscando com isso uma maior compreensão acerca do seu papel, da sua história no cotidiano escolar.
Como professora de artes, questiono sobre a função da Arte na escola. Hoje, o ensino de artes vive mais um de seus momentos de afirmação, nos revela por vários momentos os problemas vivenciados no dia-a-dia. Desde a falta de estrutura física à atuação sem compromisso de muitos professores.
Para tanto, é preciso envolver a comunidade escolar em um fazer artístico capaz de favorecer a consciência crítica e sensível, pois estes elementos serão subsídios para uma educação que propõe a construção de um olhar viajante, que vive em busca do novo, na aventura do conhecer.

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